Emoções são fontes de orientação para sabermos como o mundo nos afeta. As emoções desagradáveis normalmente são alvo de um juízo de valor negativo. Muito comumente vemos a emoção raiva sendo associada a algo impróprio de ser sentido. Dizemos para as crianças que sentir raiva é “feio”, que é inadequado! Assim, crescemos aprendendo a reprimir a nossa raiva. Realmente sentir raiva pode ser bem desconfortável e levar a comportamentos destrutivos que fogem do controle. Mas como qualquer emoção, a raiva precisa ser validada e, ao ser sentida, identificarmos o que a presença dela tem a nos dizer sobre nós mesmos. O que a raiva quer nos contar?
A raiva normalmente nos faz querer atacar e esbravejar, sentimos o tensionamento das costas, dos braços, dos punhos, das mãos e da mandíbula. Para ouvirmos o que a raiva tem para nos contar é preciso conte-la sem julgamentos. Vale diferenciar conter de reprimir. Quando contemos algo, a tendência é criarmos um receptáculo maior, um continente mais amplo, porém quando reprimimos algo, a tendência é engolirmos, suprimirmos, sufocarmos. Peter Levine, criador da Experiência Somática, nos diz que “o equilíbrio vital entre expressar e conter requer que, no momento em que vivenciamos um forte sentimento emocional, nós não precisemos necessariamente agir de acordo com ele. ” (Uma voz sem palavras). Para Levine “entrar na expressão emocional é, em geral, uma forma de liberar a tensão que estamos sentindo, enquanto evitamos sentimentos mais profundos.” Sendo assim, para que possamos ter clareza e autoconsciência a respeito das nossas emoções é preciso tomar um tempo para “olhar” para elas. Logo, o conter costuma favorecer este contato.
Perguntas importantes para fazermos diante da raiva sem julgamentos ou juízos de valor: o que a fala e a ação do outro despertam em mim? Quais os sentimentos? Humilhação? Me sinto ridicularizado? Diminuído? Tenho a percepção de que meus limites foram invadidos? Qual necessidade minha não está sendo atendida? É importante procurar a fonte do desconforto dentro de nós e não fora de nós, do contrário estaremos sempre na reatividade, olhando para fora ao invés de olhar para dentro. A reatividade impede que criemos consciência a respeito de algo e o conter nos ajuda a levar atenção para o que está sendo sentido, logo, nos ajuda no despertar da autoconsciência. Tente se lembrar de uma situação que despertou sua raiva e te fez querer atacar. Você realmente precisava se defender ou era uma maneira de desabafar, liberar uma tensão?
A contenção permite ampliar nosso repertório de respostas ao invés de simplesmente descarregar a fúria. Mas, atenção para estados emocionais fixados, que se repetem com muita frequência como uma espécie de padrão. No caso da raiva, pergunte-se se ela sempre aciona uma mobilização para uma resposta de luta e se sua postura é sempre de combate. Isso pode ser um sinal de traumatização. Normalmente experiências precoces onde a raiva teve que ser reprimida podem gerar padrões emocionais fixados que se manifestam na forma de sintomas físicos ou de explosões exageradas. Pergunte-se também: quais eram as emoções autorizadas pela sua família? Quais os mecanismos utilizados para reforço ou inibição dessas emoções?
Equilíbrio emocional envolve consciência das emoções em si mesmo e nos outros, gatilhos e comportamentos no exato momento em que surgem, com esta consciência é possível fazer escolhas sobre como se envolver na experiência com mais sabedoria. Uma emoção é um processo que ocorre quando sentimos que algo importante para o nosso bem-estar está ocorrendo. Este processo é altamente influenciado por nossas avalições sobre o que nos cerca.
Dica de filme: Red – crescer é uma fera.
Aprendendo com a raiva
Escritos por Karine Dutra
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