Sobre o trauma

por | Psicoeducação

Você costuma reagir de maneira desproporcional a algumas situações? Por exemplo, se alguém te dá uma “fechada no trânsito”, qual costuma ser a sua reação? A raiva é uma emoção que te domina? Você sente vergonha quando é espontâneo com um grupo de amigos ou numa relação amorosa? Sente culpa quando é repreendido? Sente ansiedade extrema diante de situações cotidianas, como por exemplo, ter que entregar um trabalho ou estudar para uma prova? Costuma procrastinar com frequência? Tem alguma compulsão ou vício? Tem dificuldade em colocar limites claros quando se sente invadido ou desrespeitado?

Um dos efeitos do trauma é a perda de variabilidade nas possibilidades de resposta às afetações do mundo, respondemos a experiências do presente com base no que ficou fixado a partir do que foi vivenciado no passado. Enquanto seres humanos, nós somos a espécie que precisa do outro por mais tempo para sobreviver e nos adaptar. Bebês e crianças são incapazes de sobreviver e se orientar por si mesmas. Precisam de ajuda. E as relações acabam por produzir feridas. Sabemos hoje que padrões de vínculo desorganizados na infância são os piores preditores para a saúde mental: negligência, indiferença, inconsistência, indisponibilidade, falta de previsibilidade, insegurança, desamparo e violência podem constituir o que chamamos de traumas de desenvolvimento.


Normalmente acredita-se que traumas são apenas eventos de grande magnitude, como acidentes, desastres, tragédias, estupros, violência física, afogamentos, ou seja, eventos que tem potencial para nos colocar em risco de vida ou nos deixar em estado de choque. Peter Levine, criador da Experiência Somática, diz que o trauma não está no evento, mas sim na forma como os eventos ficam registrados em nós. Nesse sentindo, trauma é qualquer situação ou estímulo que nos sobrecarregue, que é demais para nós, e para os quais não temos recursos de enfrentamento no momento em que acontece. Sendo assim, experimentamos um estresse intenso em situações percebidas como ameaçadoras. É como se essa sobrecarga, que geralmente acopla-se ao medo, raiva, tristeza, vergonha e culpa, não fosse digerida e processada pela nossa mente e nosso corpo, gerando padrões de comportamento, padrões emocionais, traços de personalidade, desequilíbrio na nossa fisiologia e fixação de caminhos neurais.


O trauma pode se expressar por meio de reações e não necessariamente como memória. Há muito mais em mim do que aquilo que me lembro ou falo sobre mim. O que define nosso modo de funcionar, nossas crenças e nossa percepção do mundo são os padrões de relacionamento e interação que constituímos durante nossa vida. A boa notícia é que trauma tem cura. A psicoterapia nos ajuda a viver no momento presente, construindo resiliência nos atravessamentos das experiências desafiadoras, resiliência é a capacidade de lidar com a adversidade e dar a volta por cima. Meu convite é para que você abra todos os sentidos para escutar o que essa caminhada pode te trazer.

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